Vanessa Lazary
O conceito de “mãe suficientemente boa” foi desenvolvido pelo psicanalista inglês Donald W. Winnicott em 1949, para trazer uma luz sobre a pressão que as mães sofriam de terem que ser perfeitas, de um ideal de maternidade. Essa reflexão torna-se atual mais uma vez quando nos deparamos com a sobrecarga das mães em tempo de pandemia e de quarentena, onde se acumulam tarefas e responsabilidades.
A “mãe suficientemente boa” não é perfeita, como muitas vezes ainda se é cobrado pela sociedade, mas sim uma mãe que além de prover as necessidades de seu filho para que este possa se constituir enquanto sujeito, também falha, e está continuamente corrigindo essas falhas. E é justamente o conjunto das falhas, seguidas pelo tipo de cuidado que as reparam, que acaba constituindo a importante comunicação do amor, embasada pelo fato de haver ali um ser humano que se preocupa com o outro.
O intuito da compreensão deste conceito tão importante, é que isso tudo se trata de fornecer o “necessário” ao seu bebê, também se identificando com ele, mas sem perder a sua individualidade como mulher. Quando a mãe tenta ser perfeita acaba sofrendo mais do que deveria, pois suas expectativas acabam sendo frustradas.
O processo de tornar-se uma mãe suficiente acontece ao longo do tempo, e a medida que as mães vão encontrando essa suficiência, a maternidade torna-se mais tranquila e prazerosa.
As mães tentam se mostrar mais disponíveis e respondem de forma mais imediata as demandas dos filhos enquanto bebês, o que é importante para que se sintam seguros, acolhidos e amados. Com o processo de amadurecimento do bebê, a mãe suficientemente boa é aquela que também frustra seu filho ao mostrar que ele não terá seus desejos atendidos prontamente, possibilitando ao seu filho a criação de duas importantes capacidades psicológicas que o posicionam para a saúde mental: a capacidade de espera e a capacidade de tolerar a frustração. O desenvolvimento destas duas capacidades é o caminho para tornar-se um individuo resiliente.
Referência Bibliográfica:
WINNICOTT, D.W. (1945). Le développement affective primaire. In: De la pédiatrie à la psychanalyse. (1969) Trad. Jeannine Kalmanovitch. Paris: Payot